terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Povoados Fortificados e Vegetação envolvente

Resumo: A base deste trabalho vai ser o estudo da vegetação de forma a compreender qual a relação
do homem proto-histórico com a natureza dos locais onde implementavam os castros, ou povoados
fortificados.
Sabe-se que por norma a escolha dos locais para a sua implementação era decidida pela geografia que
os mesmos apresentavam, normalmente locais com grande altitude, e boa visibilidade, escolhidos de forma estratégica. Desta forma é importante perceber se a vegetação era uma característica fundamental para a escolha do local.
A vegetação, tal como a espécie humana está em constante evolução, por este motivo penso que será
proveitoso e enriquecedor estudar e tentar perceber qual o tipo de vegetação que os proto-históricos
escolhiam para serem envolvidos, e qual a relação existente entre a vegetação e os povoados.


Sabemos que a vegetação hoje em dia, tem uma relação próxima com o homem o mesmo se passava
com os nossos antepassados.
A maioria das vezes houve interferência humana na vegetação mais próxima dos povoados fortificados, através de diversas actividades. Estas eram condicionadas pela oferta ambiental de cada região.
Um povoado fortificado, ou castro, são os restos arqueológicos, vulgo ruínas, de um povoado
específico da Idade do Cobre e da Idade do Ferro, característicos das montanhas do noroeste da Península
Ibérica, na Europa.
Desta forma torna-se indispensável falar da interdisciplinariedade entre arqueologia e conservação da
natureza; fazendo uma breve definição das duas disciplinas, que se cruzam neste trabalho.
Arqueologia é uma disciplina científica pertencente às ciências sociais, que estuda as sociedades já
extintas, através dos restos materiais, quer sejam objectos móveis, ou objectos imóveis; no entanto incluem
também a relação/intervenções feitas pelo homem no meio ambiente, e é nesta fase que a conservação da
natureza se relaciona com a arqueologia.
Podemos afirmar que já os nossos antepassados se preocupavam com o desenvolvimento sustentável; pois “conservação da natureza é o manuseamento do uso humano na natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir maior benefício, em bases sustentáveis, às actuais gerações, mantendo o seu potencial de satisfação às necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral.” (fonte: SNUC – Sistema nacional de unidades de conservação, lei nº9985 de 18-07-2000 apud. ABSY, 2005)

Castro de Colmo, Vigo.
Vegetação Local
Os povoados fortificados da proto-história normalmente localizavam-se em encostas escarpadas, com
alguma proximidade aos rios.
Na actualidade alguns desses povoados estão cobertos por bosques de Quercus Pyrenaica, uma
espécie autóctone.
Estes bosques conservam-se, pois têm alguma importância na economia, fornecem madeira para
construção, material combustível, alimento para o gado e reserva de caça.
Não só há bosques de Quercus Pyrenaica, como também existem bosques com uma extensão e
densidade relativa de Quercus Ilex, estes normalmente aparecem em plainos abrigados, solos xistosos e
pouco profundos, rodeados por cumes altos.
Outra espécie também importante é a Castanea Sativa, que se encontra em soutos, e em castinçais.
A extensão de Castanea Sativa foi diminuindo devido a vários factores, entre eles destacam-se a
doença da tinta, fogos de grandes dimensões, e a expansão da batata que substituiu a castanha na dieta
alimentar.
Embora haja grandes áreas de florestas, há locais de pastoreio e locais para agricultura.

Castanheiro gigante de Guilhafonso uma idade estimada em mais de 400 anos. Castanea Sativa


 Discussão – Paisagem da Idade do Ferro
Através da realização de análises palinológicas e osteológicas, chegaram-se a vários resultados. Neste
período histórico a agricultura cerealífera ocuparia uma importante faixa da paisagem.
Os espaços abertos de pastagens, e campos de cereais eram intercalados com matas de recuperação
criando assim um azulejo na paisagem proto-histórica.
Pensa-se que os espaços não arborizados estejam relacionados com a pecuária e a pastoricia ou com
ambas as actividades, e relacionados também com a prática das queimadas mediante um sistema de roças.
Durante este período a caça era bastante importante, com base nas análises osteologicas puderam-se
fazer listas de fauna cinegética existente na zona de Trás-os-Montes.
A fauna referente á caça é: ursus sp, linx pardina, rupricapra pyrenaica, capreolus capreolus, cervus
elaphus, sus scrofa.
Na actualidade o ursus sp, e o linx pardina já não existem neste território a extinção desta espécie
deve-se principalmente a dois factores: eram as espécies mais sensíveis à pressão humana; e havia grande
actividade cinegética.
A presença de cervideos e de espécies silvícolas demonstra que os locais onde se encontravam os
povoados integravam espaços de floresta.
Desta forma supõem-se que manchas de florestas de Quercus Ilex e/ou Quercus Pyrenaica cobriam as
vertentes dos rios e as encostas das serras.
Em termos de fauna doméstica há vestígios de: bos tauros, equus caballus, sus scrofa domesticus,
capra hircus, e ovis arie; que seriam alimentados em pastagens localizadas nas zonas mais húmidas

Conclusão
Estes povoados demonstram uma ecologia equilibrada, em que os habitantes tinham um bom regime
alimentar, e por isso os povoados não poderiam ser de grandes dimensões, pois criar-se-iam excedentes
demográficos, e fazia com que houvesse reflexos negativos na estrutura da paisagem e do meio-ambiente.
Após este estudo, com base na análise bibliográfica pode-se contrariar uma primeira teoria em que se
defendia que a economia castreja era basicamente agrícola.
“Sugerimos que a economia da Idade do Ferro se desenvolveu segundo diferentes modelos de
aproveitamento dos recursos naturais.” (Sande Lemos, 1993)
A intervenção humana na floresta pode se explicar por estar relacionada com várias estratégias como:
limpeza do sub-bosque para desenvolver a pastorícia; o corte selectivo de certos indivíduos para permitir o
crescimento de outras espécies; e também a desflorestação para obter zonas de cultivo.


Referências
[1] Pereira, Paulo Jorge da Silva (2006). ‘Parque Natural de Montesinho: Enquadramento Ambiental’ in
Património Geomorfológico: conceptualização, avaliação e divulgação. Aplicação ao Parque Natural de
Montesinho, volume I, pág. 119 – 139.
[2] Seijo, María Martín; Figueiral, Isabel; Bettencourt, Ana; Gonçalves, António H.Bacelar; Alves, M. I.
Caetano (2011). ‘A floresta e o mato. A exploração dos recursos lenhosos pelas sociedades da Idade do
Bronze no Norte de Portugal’ in Florestas do Norte de Portugal – História, Ecologia e Desafios de Gestão,
68 – 80.
[3] Lemos, Francisco Sande (1993). O povoamento romano de Trás-os-montes Oriental, volume I e II.
[4]Castro, José (2003). ‘Valor ecológico da paisagem rural de Trás-os-Montes’ in II Jornadas Ibéricas de
Ecología de Paisaje – Presente y Futuro de la ecología del paisaje en la Península Ibérica, 73 – 77.
[5]Aguiar, Carlos; Pinto, Bruno. Paleo-história e história antiga das florestas de Portugal Continental – Até à
Idade Média, 15 – 53.
[6] Lemos, Francisco Sande; Cruz, Gonçalo; Fonte, João; Valdez, Joana (2011). ‘Landscape in the Late Iron
Age of Northwest Portugal’ in Atlantic Europe in the first millennium BC, 183 – 204


Sem comentários:

Enviar um comentário