segunda-feira, 22 de junho de 2015

Importância do Lobo para o ecossistema



Talvez por desconhecimento, ouve-se com alguma frequência, que o lobo não faz falta nenhuma, que só dá prejuízo. Desconhecem por completo a importância que a população de lobos pode trazer para o ecossistema.
O nosso pais tem o privilégio de ser dos poucos países da União Europeia e da Europa Ocidental, onde ainda sobrevivem populações viáveis deste carnívoro.
Devido á perseguição que sempre houve contra o Lobo, muitos países de Europa erradicaram a presença do Lobo como sinal de desenvolvimento.
 Já desde 1990, que o lobo está totalmente protegido em Portugal, sendo proibido o seu abate ou captura e a destruição ou deterioração do seu habitat, ainda assim apesar dos esforços, têm havido alguma resistência na conservação desta espécie.

A situação actual do lobo e a regressão que tem vindo a sofrer devem-se à acção directa ou indirecta do Homem. A diminuição e extinção das populações de ungulados silvestres (veado e corço), isto deve-se também á fraca sensibilização de caçadores.

As presas naturais do lobo escasseiam e obriga o lobo atacar animais domésticos para
sobreviver, sendo este o principal motivo do ódio do Homem para com o lobo, que o persegue ilegalmente através do tiro, laços e veneno.
Outra ameaça séria que o lobo enfrenta é a fragmentação da população devido à proliferação de barreiras que dificultam a livre circulação de lobos (como barragens ou redes viárias de grande fluxo de tráfego).

A predação do lobo possui igualmente implicações benéficas na sanidade e vitalidade das populações das suas presas, uma vez que se alimenta, preferencialmente, dos animais mais fracos, idosos ou doentes, prevenindo a propagação de doenças e a sobrevivência de indivíduos reprodutores menos aptos.
Ou seja o lobo ao comer os animais mais doentes, acaba por evitar a proliferação das doenças, posteriormente, esse cadáver deixado pode servir ainda de alimento para outro tipo de espécies, como é caso das aves de rapina, assegurando assim a sua sobrevivência com mais abundância de alimento.





As taxas de mortalidade nos animais domésticos devido à predação do lobo são bastante inferiores às
verificadas devido a doenças como a Tuberculose e a Brucelose, ou outras causas.

Com efeito, Costa & Moreira (1998) referem que na região de Bragança, as taxas de mortalidade de ovinos, devido à predação do lobo (0,1%) são bastante inferiores às causadas pela brucelose (7,3%), pela mortalidade natural dos cordeiros até um mês de idade (3,5%), por outras doenças (1,4%) ou até mesmo pelos partos (0,6%). Os mesmos autores verificaram igualmente que para os caprinos, a brucelose (5,8%) e outras causas (1,4%) possuem taxas de mortalidade superiores as causadas pelos ataques de lobo apenas, 0,6%.

Desta forma o impacto da predação do lobo encontra-se longe de ser a causa de maior
mortalidade nos rebanhos e, permite supor que a maioria dos animais domésticos que supostamente foram caçados pelo lobo, poderão na realidade encontrar-se já fortemente debilitados ou mesmo moribundos, devido a doenças ou outras causas de morte. Assim, o lobo poderá comportar-se mais como um necrófago do que como um predador.

O conflito Homem-Lobo

As histórias de humanos atacados por lobos, estiveram sempre presentes ao longo da história, mas são de facto exageradas. Não se conhecem casos em que um homem de porte médio, possa ter sido devorado por um lobo, e nos dias de hoje um cajado é quanto basta para afugentar um lobo, que o digam os pastores de Abruzzos na Itália, mas já lá vamos...

Numerosas lendas, têm origem no periodo de guerra e fome ou epidemias, em que poderia haver a imagem de um lobo a devorar um cadáver que teria ficado para trás. Em Portugal é possível que os pastores mais velhos, contém não rara vez, que um ou mais lobos outrora o quiseram atacar. O lobo pode, se em matilha, mostrar-se algo ameaçador aos olhos dos que o não conhecem. Na verdade, quando o lobo mostrou os dentes, é para os cães e não para o pastor.

Ainda sobre as queixas dos ataques do lobo a rebanhos,  verifica-se actualmente, por parte dos pastores e proprietários de gado, um total desinteresse pelos sistemas tradicionais de pastoreio e de protecção do gado (e.g. utilização de cães de gado e de métodos de condução e confinamento nocturno do rebanho), deixando os seus animais sem qualquer protecção, inclusivamente em áreas de forte presença de lobo. Apesar de ultimamente, terem havido esforços e terem sido oferecidos cães de raça autóctone aos pastores, como é caso do cão de gado Transmontano.



O conflito Homem-Lobo possui também uma forte componente cultural que atribui ao lobo uma imagem negativa, mas que, simultaneamente torna este carnívoro num elemento importante da cultura rural. A actual relação cultural entre o Homem e o Lobo tem origem na Idade Média, quando o lobo foi utilizado por parte da Igreja católica, como símbolo satânico.

A religiosidade das gentes medievais fez com que, depressa assimilassem esta ideia, dando ao lobo uma dimensão mitológica, de besta sobrenatural e devoradora de Homens que em muito contribuiu para a perseguição e extermínio implacável que o lobo sofreu nos últimos séculos. A grande religiosidade ainda expressa nas actuais comunidades agro-pastoris das montanhas do Norte ibérico, associado ao isolamento geográfico em que vivem, permitiram a sobrevivência até hoje de um rico património cultural relativo à sua relação com o lobo, expressa em várias lendas, mitos, crenças e aspectos materiais, que já é impossível encontrar em outras regiões da Europa.

Além destas manifestações culturais de origem medieval, é necessário, também, ter em conta os “mitos modernos”; a "historia do Lobo mau" ,  "lobo como animal satânico, que devora o rebanho de Deus" são mitos que têm que ser abandonados para uma preservação mais eficaz da espécie.


Distribuição do Lobo Ibérico em Portugal


O Lobo solitário

Muitas vezes surge a questão se o lobo pode atacar sozinho. a maior parte dos lobos vive em grupo. Os lobos solitários são geralmente mais novos, em busca de um território ou de uma fêmea.


Lobo usado como Ecoturismo

O Ecoturismo é, possivelmente, a melhor forma de valorizar economicamente o lobo, pois além de educar e sensibilizar o público sobre a espécie.
No Parque Nacional de Yellowstone por exemplo um exemplo esclarecedor: Segundo um recente estudo efectuado pelo economista J. Duffield da University of Montana, desde 1995, ano de reintrodução dos primeiros lobos nesta região, estes carnívoros passaram a ser o principal
motivo de visita dos turistas, que, em cada ano, gastam 35 milhões de dólares que beneficiam as
comunidades locais; desta forma, o uso turístico produzido pelos 250 lobos de Yellowstone eleva o impacto econômico da região a cerca de 70 milhões de dólares/ano.





O caso de Yellowstone, a importância do Lobo.

O lobo mata outros animais, devido a ser o topo da cadeia trófica, mas convém ressalvar que eles dão vida a muitas outras espécies. Um exemplo, é o que se passou no parque Natural de Yellowstone, os lobos foram reintroduzidos em 1995, mas até então estiveram ausentes durante 70 anos. O numero de veados e outros herbívoros era um numero enorme, por não terem predadores naturais. Mesmo os esforços dos humanos em caçar, não conseguiram reduzir o numero e as consequências foram que conseguiram reduzir a vegetação a um nível assustador em que já pouca comida restava para a própria espécie de veados.




Não é de estranhar que em muitos lugares onde a alguma espécie vegetal está em vias de extinção, possa ter a ver com o numero elevado de herbívoros.
Quando os lobos chegaram em 1995, houve mudanças no ecossistema, com efeitos notáveis.
Os lobos naturalmente começaram por matar alguns veados. Os veados por outro lado começaram a mudar o seu comportamento, começaram a evitar algumas zonas do parque, particularmente falo dos desfiladeiros e vales, onde havia a facilidade de serem encurralados mais facilmente. Imediatamente a flora desses locais começou a regenerar, em algumas áreas a altura das arvores quintuplicou em apenas 5 anos. Vales de mato, rapidamente se transformaram em bosques. Assim que as arvores começaram a crescer, as aves começaram aparecer, o seu numero aumentou drasticamente, e o numero de castores também. Os castores tal como os lobos, são "engenheiros" dos ecossistemas, eles criam nichos, para outras espécies.

Os lobos mataram os coiotes e como resultado disso, o numero de ratos e coelhos aumentou também, o que significa mais falcões e doninhas e mais raposas.  Corvos, desciam para se alimentar de carcaças que lobos deixavam para trás, o seu numero aumentou também, assim como os ursos, pois havia mais bagas para se alimentarem.
A parte mais interessante, é que a presença dos lobos, mudou também os comportamento dos rios. Havia menos erosão, devido á fixação de vegetação rasteira nas margens, as galerias ripícolas aumentaram,  os canais estreitaram, e naturalmente surgiram mais açudes e rápidos. Sendo que os rios, tornaram-se mais fixos, definitivamente.

Os lobos apesar de numero pequeno de efetivos, transformaram o ecossistema.

Um interessante artigo, foi feito pelos alunos de mestrado de Educação Ambiental do Instituto Politécnico de Bragança, nomeadamente sobre a percepção dos pastores sobre a comunidade lupina na zona de Bragança, e chegou-se a uma conclusão de que ainda não existe uma aceitação por parte de grande parte dos pastores. Esse artigo poderá ser disponibilizado, posteriormente.

Nota: artigo de índole de opinião pessoal, baseado em alguns autores, onde deixo na bibliografia. Este não é um artigo académico cientifico!

Ricardo Ramos




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CABRAL, M. J.; M. E. OLIVEIRA; C. ROMÃO; H. M. SERÔDIO; A. TRINDADE; S. BORGES & C.P. MAGALHÃES (1987); Alguns vertebrados do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Publicações do Parque Nacional da Peneda Gerês, 48 pp.

ESPÉCIES EMBLEMÁTICAS & DESENVOLVIMENTO RURAL:
O POTENCIAL DO LOBO-IBÉRICO E DA SUA IDENTIDADE NA CULTURA POPULAR
Francisco ÁLVARES Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO-UP) GRUPO LOBO – Associação para a Conservação do Lobo-ibérico e seu Ecossistema

ICN (1997). Projecto Conservação do lobo em Portugal. Relatório final no âmbito do Programa LIFE, Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa.

MECH, L.D. & L. BOITANI (Eds), (2003). Wolves; Behavior, Ecology and Conservation. The University of Chicago Press. 448pp.

CABRERA, A. (1914):
- La Fauna Ibérica: Mamíferos. Museo Nacional de Ciencias Naturales, Madrid, 441 pp.